By Tony Waltham
Apesar da beleza quase sufocante das flores das amendoeiras e das magnólias, não consigo deixar de sentir que é tempo de revirar a terra.
Como se o meu relógio interior não estivesse a bater certo com a vontade da natureza.
Quando tudo parece ter agora o seu início, ou o florescer do seu fim, sinto que me encontro no meio, a olhar para as coisas que tinha nos bolsos, e que disponho agora nas mãos, para as ver melhor sob a luz quente de Inverno. Observo-as atentamente estranhando a sua imaterialidade. Não me pertencem, não sei tocar-lhes, mas desajeitadamente (talvez), permanecem pousadas sobre as minhas palmas.
Daí sentir que é necessário revolver a terra. Deixar que respire um pouco, para que o folgo não lhe falte quando sentir que precisa de dar frutos.
Nessa altura saberei que as estações mudaram.
"teu corpo é um arco sobre o tempo
onde o fulgor do silêncio se demora
por isso
se o ofício é vão e imperfeita a idade
a palavra que me habita é onde eu moro
e essa habitação depura em mim
a explicação de toda a liberdade"
Embora seja noite, de Luís Soares Barbosa