10.12.09

Começo por corrigir o meu erro em relação ao título do filme. Chama-se "E se Deus fosse o Sol".
O título surge simplesmente porque a personagem principal, quando ia à missa ouvia "God is Sun" em vez de "God's Son", referente a Jesus Cristo.
E no entanto, parecendo um erro inocente, poderia ser fundamento a uma verdade profunda, rompida nos vitrais do Gótico e reflectida na pureza das flores e amoras do Caminho.

Compareci na terça-feira ao encontro de ex-alunos no Colégio-Luso-Francês.
Pessoas de todas as idades, partilharam um tarde de memórias, guardadas nos recantos de um recreio que continuará sempre a ser, para todos, um "casa" a reviver.
Falou-se do criquete e das aulas em francês. Tempos que eu não cheguei a viver.
Quando tinha três anos, o lado novo já estava a ser construído, as refeições eram na actual sala de música do palacete. Rezávamos antes e depois da refeição. E havia sempre uma Irmã, cujo nome nunca cheguei a conhecer, que me obrigava a comer as cenouras do arroz.


Começo agora a acordar de um tempo de náusea e entorpecimento. Uma sonolência induzida, na procura por adormecer os nervos e a ansiedade.
Há coisas tão maiores!

Li recentemente o livro "Folclore Íntimo" de Valter-Hugo Mãe, emprestado pelo Zé Diogo.
Não tinha qualquer ideia da sua poesia, mas confesso que agora estarei mais atenta a obras da sua autoria.
Despertou-me o bichinho preguiçoso da escrita.

O regresso ao colégio, como uma palavra-chave, fez-me relembrar a minha avó, e todo o seu caminho e luta contra um cancro que acabaria por a levar.
Mas "as coisas não desaparecem, não para sempre".
E na terça acreditei revê-la, por momentos, como à 7 anos atrás, sentada nas filas do fundo da igreja para me ouvir cantar o salmo.
Tínhamos um jogo só nosso. Eu perguntava - "Mamã, dás-me uma sertã?" - e ela respondia com um ar confuso e cómico - "Uma rã? Mas o que vais tu fazer com uma rã?". O Opel Corsa enchia-se de gargalhadas. E voltávamos as duas, da catequese, cantando os meus cânticos preferidos, e revendo o meu ponto fraco a matemática: a tabuada.
Já nos últimos momentos pediu-me que a lembrasse sempre pela vida que tivera antes de adoecer. Pelo bife maravilhoso com batatas, pelas histórias das viagens pelo mundo que fazia, por tudo aquilo que ao longo de 13 anos me deu, e não se consegue dizer.





2 comentários:

Sara disse...

Oh Tita deixaste-me com os olhos molhados. Que post bonito. Verdadeiramente bonito.
Abraço apertado

Juca disse...

também a mim. agradeço a deus pela tua avó e por ti. abraço