Apelidaram-na de velha mexeriqueira. As vizinhas, com sua moralidade arrebitada, afirmam mesmo que aquele nariz de uma coscuvilhice enviusada não engana ninguém. Segundo as mesmas “a velha desavergonhada põe-se de guarda, esconde-se por detrás da janela, e não arreda pé até ao anoitecer”. Da rua apenas se vêem dois pontos brilhantes perdidos no baço de uma janela envelhecida. As moralistas contam-lhe o número de rugas e as pedras à vida. Dizem-na mulher de má fama, nefasta mãe, violenta e implacável, de personalidade corrosiva e carência afectiva. Acusam-na de intriga e de divulgação da vida privada alheia. Ainda existem umas poucas que a acusam de bruxaria, tortura, chegando mesmo a afirmar que por vezes ouvem o carteiro, e as escassas pessoas que se atrevem a visitá-la, gemendo e gritando de dor, suplicando por ajuda.


Elas nada sabem.


Ali naquela casinha de ensopada construção, vive o bolor, o cheiro a mofo e a humidade. Vive o pequeno aquecedor quase eléctrico, a poltrona de face para a janela, a cama de mola partida, o meio colchão que o tempo encarregou de encolher, juntamente com a pobre velhinha que ali mal vive.
Não sobrou muito do calor da casa, escapuliu tudo pela frincha da porta e pelas brechas rasgadas nas paredes. Poucos foram os retratos que restaram e a mobília que não foi levada pelos ditos justos, que afirmavam convictamente, apontado para um papel com letras a branco, que a renda estava por pagar.
O filho havia-lhe prometido que trataria da renda… A neta dos caracóis ondulados havia prometido que a visitaria… A filha havia prometido, distraída, que lhe traria sopa e rabanadas, por volta do natal…Também o marido lhe havia jurado que nunca mais voltaria a partir para longe… Pois tão longe havia partido desta vez, que ainda não havia regressado…







[andava com saudades de criar historinhas destas.pode ser que consiga continuar esta até ao fim.
o curso ainda mal começou e ja me ajudou imenso.deu me uma ideia realistas de que ainda me falta aprender muito.
obrigado aqueles que nao desistiram de me persuadir a entrar no curso.até lá vou desvanecendo olheira de uma semana cansativa (ja me disseram para tomar vitaminas...qualquer dia compramos comprimidos para matar a sede, como diria Antoine de Saint-Exupéry).

1 comentário:

Zoé Mourão disse...

as tuas histórias fascinam-me, fazem-me voltar à infância num presente muito vivo. obrigada por isso :)

e essencialmente, obrigada pelo apoio que me tens dado, tem sido muito bom.
obrigada outra vez =)

O nosso abraço*

p.s- é "fixolíssimo" estares no curso connosco. obrigada aos persuadores :P