22.04


Sentada na escadaria da entrada, ela acariciava a literatura primaveril, adormecida no seu colo, absorvendo em seus cabelos atados o odor a jasmim. Aquele perfume prometera-lhe viagens, continentes distantes, quando nada mais ela desejava senão a permanência, a estabilidade, no interior do seu mundo que se via agora emaranhado em farrapos. A mãe falecera, havia agora dois anos. Como o tempo voa, mesmo na flor da idade sente-se o peso do tempo. O pai armava agora bagagens de partida para as Américas, a outra o esperava. Não a conhecia, à outra, sempre a julgara uma balofice, um “acontecimento” de ocasião. Que lhe tivesse chegado, nada mais era comentado naquela casa do que a existência de algumas cartas, às quais a donzela fazia o obséquio de responder, por límpido respeito ao cavalheiro.
Os seus olhos amendoais cruzavam-se agora com a ruído que provinha da porta. Num frenesim de devota, o corpo compacto de seu pai arrastava pelas escadas dois ataques de coração, uma capacidade racional eximia, uma escolaridade obrigatória, um par de malas de couro polido e um rosto cravado de bom humor rematado com o habitual cigarro.
E despedindo-se com um botado – volto daqui a uns dias – partiu.
Compreendeu, então, que anoitecera.(...)












E assim nasce uma historia...

1 comentário:

Anónimo disse...

Estava a ver que não. Uma pessoa vem aqui todos os dias, e nunca tem nada!
Hoje tinha! :D

Saudades Patricia!