ilustração de Raquel Marin"Começo a conhecer a morte: tem outros segredos, mais estranhos ainda à nossa presente condição de homens. E, contudo, tão ligados, tão profundos são esses mistérios de ausência e parcial esquecimento que nós sentimos confluir em qualquer parte a corrente branca e a corrente escura. Nunca gostei de ver dormir aqueles que amava; descansavam de mim, bem sei; mas escapavam-me também. Quantas vezes, tendo-me levantado (...), compus eu próprio as almofadas amarrotadas, os cobertores em desordem, evidências quase obscenas dos nossos encontros com o nada, provas de que em cada noite deixamos de existir."
"Memórias de Adriano", de Marguerite Yourcenar
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